segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ozun


Há pelo menos duas maneiras de se escrever o nome deste Orixá. Ozun e Ossu. Segundo o Awô Eduardo Miguel Perea, em Cuba a maneira mais usada de se escrever é Ozun.
Osun, representa a união entre o aiyé e o orun, ou seja, o mundo material e o céu metafísico habitado por diferentes entidades espirituais.
Ele é  representado por um Galo sobre uma coluna e  que nunca dorme e nunca cai,  sempre se mantém firme e de pé. Este Orixá tem a forma deformada e imperfeita e trabalha diretamente com Orunmilá e se alimenta das mesmas oferendas de Orunmilá.

Ferramentas dos Guerreiros com Ozun.


No Brasil este Orixá é pouco conhecido. Seu culto esta relacionado com o de Orunmilá, mas  cada Orixá pode ter o seu Ozun especifico. Cada um é montado de maneira diferente e com ingredientes especificos,  como o de Mãe Iansã que feito de cobre e que leva nove facões como adorno e o do Pai Omulu que tem como Guardião um cachorro. O Ozun de Obatalá leva ao invés do Galo um Pombo de asas abertas, que lembra a história de Eiye kan, o primeiro pombo que veio reproduzir graças a Ifá. Este pombo passou a chamar-se Eiyele ( no Brasil é chamado de Ilé), simboliza a honra e a autoridade, por este motivo é ali colocado.
Quando um iniciado no culto a Ifá, encontra o seu Ozun, caído sem motivo aparente, ele deve levá-lo imediatamente para casa do seu Padrinho de Ifá (o seu Babalaô). Para que seja investigada a causa. Que pode ser desde um aviso de morte, acidente ou feitiçaria.




 Ozun de Iansã


















Ozun de Omolu

domingo, 21 de novembro de 2010

Assentamento de Ogum


Caldeiro de Ogum
 Segundo os Itans de Ifá, Ogum e Oxosse foram uns dos primeiros Orixás a habitarem a Terra. Eram rivais, mas Olodumarê com o intuido de faze-los amigos e irmãos marcou um encontro no mesmo local e na mesma hora com os dois. Quando Ogum e Oxosse se encontraram, cada um perguntou ao outro o que estava fazendo naquele local. Ambos responderam que Olodumarê mandou que eles fossem ao encontro dele. Passou-se muito tempo e Olodumarê não apareceu. Passou o dia, chegou  a noite, raiou o outro dia e nada de Olodumarê aparecer. Ambos cansados e com medo, não se retiraram do local com medo de sofrerem a cólera do Pai. Resolveram fazer uma trégua momentanêa e constataram que estavam famintos. Oxosse, o Orixá da caça, saiu para arrumar comida, enquanto Ogum foi buscar água. Apesar do Grande  Pai Caçador possuir habilidades mágicas  para caçar, seu Ofá (arco e fecha) era pequeno e ele só conseguia pegar pássaros e animais pequenos. E a fome de ambos era imensa. Ogum, grande ferreiro do céu, observou que seu irmão não possuia as armas necessárias, então, o chamou e lhe deu um ofá maior, feito com um metal de grande dureza, só que leve o suficiente para ser manipulado. Também lhe deu ponteiras mágicas para a confecção das suas flechas. Assim o Grande Caçador abateu amimais maiores e pôde saciar a fome dos dois. Há  dias no local do encontro, eles conversavam e pareciam grandes amigos. Olodumarê apareceu e, feliz, abençou a união dos irmãos. Assim nasceu o pacto do Pai Ogum com o Pai Oxosse. Este Itãn se encontra no Omo Odu de Ifá Ogunda Massa.
Por este motivo, Ogum é assentando num caldeiro (espécie de caldeirão de ferro), com todos os seus atributos e não pode faltar o arco e flecha que representa o pacto de união desses Orixás.
Dentro do Culto a Ifá, Ogum é patrono do Trabalho, enquanto Oxosse é o Orixá da prosperidade.

Além do caldeiro o assentamento de Ogum leva:
- Miniaturas de ferramentas
- Três facões
- Três Ofás
- Uma bigorna pequena, quando a assentamento é para mulher, e uma bigorna média ou grande, se o assentamento for para homem.
- Okutás (pedras), para ambos os Orixás,
- Fava de Oju Malu (olhas de boi) e de awô (conhecida com fava de vidência).
- As pessoas iniciadas no culto, devem deixar o assentamento do Pai Ogum e do Pai Oxosse atrás da porta principal de sua casa. Para que entre a prosperidade e que nunca falte o trabalho.

Ashé!

Iniciação ao Culto de Ifá

Opele-Ifá

Jogo de Ikin

Após algum tempo sem postar nada, vou contar mais um pouco da minha história...

Depois de fazer Santo e dar minha obrigação de um ano, sai da casa onde fui feito e parti para outra. Lá, tomei as obrigações de três, cinco e sete anos. E fui suspenso Pai Pequeno da casa, mas nem tudo é perfeito, somente Olorum, e acabei saindo dessa roça. Mas, durante todo este tempo, uma coisa ficava martelando na minha cabeça: eu queria encontrar uma lógica, um raciocínio coerente e não suposições e atitudes baseadas nas frases: Um dia você vai saber!” ou “é assim que tem de se fazer e não pergunte, faça!”
Um dia, procurei, o falecido Robinho do Oxoguiã, que foi um grande amigo e conselheiro e que me deu uma outra visão da religião. Eu estava acostumado a fazer o chamado "café com pão" e ele me ensinou o que era um verdadeiro "chá inglês".
E foi dentro da casa dele que conheci um homem iniciado no culto a Ifá. Conversamos algumas vezes e eu achava que Ifá era Jogo de Búzios. Pedi a ele para que jogasse para mim e ele disse que me levaria para eu jogar com o padrinho dele.
Pois bem, lá fui eu jogar Ifá. Quando cheguei, fui recebido na casa pela esposa do homem com quem iria jogar. A Yapetebi de Orunmilá, Kátia Cristina, Omo Odu Odimone. O babalaô Marcos Proença, Omo Xangô Omo Odu Ossa Irosso, deu novo rumo à minha vida espiritual. Após jogar com ele pela primeira vez, pense: “Foi isso que sempre busquei para minha vida: respostas coerentes!”
E entendi que o culto a Ifá em nada se parece com o Candomblé. Primeiro, porque os Babalaôs – Pais do Segredo - são raspados para Orunmilá e não podem receber um Orixá em sua cabeça (virar com Orixá). E também não podem ser homossexuais. Com raras exceções, por ordem de Orunmilá, alguns, antes de se iniciarem no culto, dever fazer santo. Eles não jogam búzios e sim Opelê ou Ikinis (caroços de dendezeiro).
Opele-Ifá ou Rosário de Ifá, é um colar aberto composto de um fio trançado de palha-da-costa ou fio de algodão, que tem pendentes oito metades de fava de opele e é um instrumento divinatório dos tradicionais sacerdotes de Ifá.
Existem outros modelos mais modernos de Opele-Ifá, feitos com correntes de metal intercaladas com vários tipos de sementes, moedas ou pedras semi-preciosas.
O jogo de Opele-Ifá é o mais praticado por ser rápido, já que o consulente não necessita perguntar em voz alta o que quer, o que permite o resguardo de sua privacidade. Com um único lançamento do rosário divinatório, aparecem duas figuras que possuem um lado côncavo e outro convexo, que, combinadas, formam o Odú ou Omo odu (combinações de dois signos diferentes).
Passei a casa a frequentar a casa de Marcos Proença e me apaixonei pelo culto e me iniciei como Awofacan, que significa: ‘aquele que recebeu do seu padrinho o seu Ikofafun (para homens e kofá para mulheres).” Awofacan é uma forma contrata de se dizer: Awo Ifá Kan. O iniciado recebe uma mão de Ifá, seu primeiro caminho até Ifá, antes de se tornar um Babalaô, para aqueles que têm este caminho indicado por Orunmilá.
 
A consagração:
No primeiro momento, é feito um ritual com duração de três dias. É necessária presença de pelo menos quatro Babalaôs.
No primeiro dia, são realizadas cerimônias aos ancestrais. A ancestralidade tem peso fundamental dentro da religião africana e cubana. Tudo começa com eles.
Em seguida, é feita a Sasanha, na qual os assentamentos que fazem parte do Ikofá ou Kofá são lavados e consagrados através de cânticos e folhas dos orixás. Nessa cerimônia somente os babalaôs participam e os iniciados ficam do lado de fora do Ibodun de Orunmilá, fazendo seus pedidos e orações.
São lavados em Omi eró, os assentamentos de Eleguá (Exú), Guerreiros (Ogum, Oxosse e Osun) e o assentamento de Orunmilá.

Mais tarde descreverei cada assentamento.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Boiadeiro, sempre polêmico!

Muita gente me pergunta sobre Boiadeiro. Se é uma entidade de Umbanda ou de Candomblé. Até já abordei isso na minha coluna no jornal Extra, mas nunca é demais tentar esclarecer o assunto. Os mais velhos me ensinaram que Boiadeiro é um encantado, que transita pelos dois cultos e tem contato direto com os Orixás. Eu tinha um ano de iniciado no culto aos Orixás - já com obrigação de um ano - quando o meu Boiadeiro, de nome Japurunã, pegou a minha cabeça pela primeira vez. Nesse dia, estava presente o meu avô de santo, Miguel José Gonçalves - Ibi Mavambo, que soltou o ashe de fala do meu boiadeiro. A partir dessa cerimônia, Japurunã deu seu brado primeiro brado (Ilá). Japurunã disse que ele não era Boiadeiro comum e sim um índio e foi escravizado para ser um capitão do mato (aquele que capturava escravos fujões). Ele cultua, diferentemente dos outros Boiadeiros, Tupã (o Sol), Jaci (a Lua) e Iara (a Mãe D´água). Gosta de receber oferenda, feijão tropeiro, rapadura e vinho. Hoje em dia, com meus 30 anos de santo, é muito difícil ele vir, somente acontece em casos extremos. Para agradar Boiadeiro, cozinhe uma abóbora moranga (ao dente), abra uma tampinha, retire os caroços e ponha dentro: fumo de rolo desfiado, mel e milho cozido. Ofereça numa porteira de sitio ou fazenda com velas verde, amarela, azul e branca.

Ashe

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Muito prazer!



Para quem não me conhece, sou Walter D´Oxoguiã, babalorixá há 30 anos e colunista de Búzios do Jornal Extra. Amo minha religião e quero compartilhar com você um pouco da minha experiência. Eu iniciei minha vida espiritual aos16 anos. Estava com problemas de saúde e fui levado a casa de candomblé de Mãe Zezé de Oxum Opará. Ela jogou para mim e constatou que meus problemas eram realmente espirituais. Fiz um bori e melhorei muito. Seis meses depois fui raspado. Entrei para fazer Iemanjá, que era a Orixá que respondi em meu jogo e acabei sendo feito de Oxoguiã, que se apresentou durante minha feitura como o dono de minha cabeça. No dia do toque de bolanã, todos estavam cantando e dançando, invocando Mãe Iemanjá em minha cabeça. Conclusão: todos receberam seus Orixás e eu fiquei acordado. Meu avó de santo, Miguel Gonçalves, mandou que os ogãs cantassem para Oxalá e foi aí que eu bolei. E ele costumava dizer que o meu barco era de duas Iemanjás e meia, porque tinha um ogã de Iemanjá, minha dofonitinha era filha de Iemanjá e eu que a tinha como segundo santo. Hoje, sou muito feliz por ser filho de Oxoguiã Ati e Iemanjá Assessu.